Quando se trata da compra de um imóvel, entre as opções de pagamento, a mais comum é o financiamento imobiliário. Porém, mesmo com o ciclo de queda da Selic, que está em 11,75% ao ano (a.a.), o custo do empréstimo ainda é inviável para a maioria dos brasileiros.
Nesse cenário, o consórcio vem ganhando adeptos ao se vender como uma alternativa mais barata. O total de participantes ativos em consórcios de imóveis em 2023 (entre janeiro e novembro) subiu para cerca de 17 milhões de consumidores, alta de 60% em relação ao mesmo período de 2020, segundo dados da Abac, associação das administradoras de consórcios.
“À medida que o juro sobe, um volume grande de clientes perde a capacidade de compra porque no crédito imobiliário só é possível comprometer um terço da renda familiar na dívida. Nesse cenário vimos uma migração para o consórcio”, explica Bruno Gama, fundador da Credihome by Loft.
SIMULAR DE GRAÇA
Para 2024, a expectativa é um reaquecimento do mercado imobiliário diante da queda da Selic, que tem a perspectiva de chegar a 9,0% a.a. no fim deste ano. Portanto, uma queda no custo do financiamento deve acontecer.
No entanto, o impacto no bolso do consumidor será bem gradual, na avaliação de Alberto Ajzental, coordenador do curso de negócios imobiliários da FGV. “O financiamento ainda deve continuar caro para uma boa parcela das pessoas”, afirma. Diante disso, confira o que levar em consideração em cada opção.
Prós e contras
O financiamento e o consórcio são opções disponíveis ao consumidor que deseja adquirir um imóvel no Brasil, mas não são produtos similares. Veja os prós e contras de cada opção:
Considere também a necessidade de morar no imóvel. “O financiamento é indicado para quem precisa do imóvel imediatamente, já que em cerca de 60 dias é possível entrar no imóvel, enquanto o consórcio é mais indicado para quem não tem pressa. A contemplação pode demorar entre um mês e 15 anos, por exemplo. A pessoa não sabe quando terá acesso ao imóvel”, explica Ajzental. Por isso, se precisar de um local para morar antes de ser sorteado terá de optar por um aluguel, por exemplo, ou ficar onde está atualmente.
No consórcio, o consumidor pode também dar lances em dinheiro, seja com recursos acumulados, seja com valores do FGTS, para que sua contemplação saia antes. Porém, nem sempre dá para garantir que o lance dado será o suficiente para receber a carta de crédito, afinal, todos os participantes podem fazer propostas. “Em muitos casos é preciso dar, praticamente, o valor do imóvel à vista para garantir uma contemplação. E nesse caso fazer o consórcio perde o sentido para algumas pessoas, já que fica menos acessível”, acrescenta Gama.
A Abac, associação de consórcios, ressalta outro ponto. Se o preço do imóvel for maior que a carta de crédito, o consumidor pode complementar da maneira que puder, seja adicionando recursos próprios ou até financiando o restante. Por outro lado, se depois de comprar o imóvel desejado sobrar dinheiro da carta de crédito é possível, conforme a legislação, usar até 10% do valor da carta para pagar custos de cartório, seguros, entre outros gastos envolvidos na compra do imóvel. É importante sempre conferir o contrato do consórcio e suas regras para saber quais as possibilidades.
O consórcio também não remunera o dinheiro que vai para o fundo: o valor das parcelas, assim como o valor da carta de crédito é reajustado por um índice definido em contrato, como o INCC, por exemplo. Por isso, antes de fechar o consórcio vale comparar a possibilidade de aplicar os valores.
“Com uma taxa de administração varia entre 18% e 23%, na média, sobre o valor da carta, se o consumidor usa esse mesmo dinheiro para aplicar todo mês em algum produto com remuneração, como um fundo de investimentos, por exemplo, é possível que no mesmo período de tempo do consórcio ele já tenha valores para comprar o imóvel à vista”, observa o fundador da Credihome.
Sortudos pagam menos?
A pedido do InfoMoney, Ajzental, professor da FGV, produziu uma simulação sobre a aquisição de um imóvel. Para comparar situações iguais, foi considerado um consumidor que quer adquirir o imóvel porque hoje não tem casa própria, portanto, arcará com o custo do aluguel mais a cota de consórcio ou com a parcela de financiamento. Vale lembrar que é apenas um exercício fictício para dar uma ideia de custos.
As premissas foram:
pessoa de 30 anos que precisa do imóvel para morar;
renda anual de R$ 40 mil;
compra de um imóvel novo em São Paulo, que custa R$ 300 mil (sendo financiados R$ 240 mil na tabela SAC e uma carta de crédito de R$ 236 mil no caso do consórcio);
a simulação foi feita no site da Caixa Econômica Federal, banco federal que oferece as duas opções;
prazo para ambos os casos foi de 184 meses, cerca de 15 anos;
taxa de 9,6% a.a. para cliente com relacionamento no financiamento; e taxa de administração de 18% sobre o valor da carta do consórcio;
Veja o custo total do financiamento e do consórcio ao final do período da dívida:
“O consórcio faria sentido se esse consumidor fosse contemplado até o mês 79, ou seja, em cerca de seis anos. Depois disso, fica bem caro — lembrando que, no consórcio, é preciso arcar com a parcela mesmo depois da contemplação. É aí que a sorte entra. Sortudos podem pagar menos”, ressalta Ajzental. Por isso, a recomendação para escolher entre as opções é: leve em conta sua situação financeira e necessidade do imóvel no momento da compra.